Papo sobre infância - conceitos, reflexões e a importância do brincar
Esse ano o meu mundo acadêmico está repleto de fortes emoções e novas descobertas. Comecei a estudar mais profundamente o campo da psicologia e, em uma das minhas matérias, comecei a estudar sobre infância e desenvolvimento em relação ao ato de brincar. Brincadeiras. Está aí algo que eu nunca havia relacionado ou, então, pontuado a importância. Apesar disso, graças as aulas, textos e vídeos assistidos, estou cada vez mais interessada pelo tema e quero compartilhar um pouco desses conhecimentos interessantes aqui, quem sabe você também não curte?
O que é infância? A partir da visão de Aries (1978) a infância contemporânea é vista como o resultado da separação entre a fase adulta e a fase infantil, sendo consolidada depois que a escrita ganhou mais domínio na Europa dos séculos XVI e XVII. Dessa forma, a criança seria vista como um sujeito incompleto e estaria inserida no universo dos adultos quando adquirisse as habilidades da leitura e da escrita. Ou seja, antes vivíamos, e ainda temos vestígios disso, com a concepção do ser criança a partir de definições do ser adulto; é aí que está o erro, pois é mais viável aprender a reconhecer e aprofundar as subjetividades do processo no qual as crianças estão envolvidas, independente do que elas podem ser na fase adulta. Pensar no significado da infância como singularidade que possui seus próprios processos, descobertas e independências; pensar esses processos não em prol dos resultados, mas sim dos meios que foram e irão ser gerados.
Hoje, a partir de um olhar mais atento e diverso, podemos conceituar a infância de uma outra formar, a qual define a criança como um ser independente do adulto que não só absorve a cultura, por exemplo, mas também produz e transmite cultura. A infância é vista como uma fase de construção, formação e desenvolvimento, onde a crianças, através das descobertas de si e do mundo, se constitui enquanto sujeito provido de identidade, personalidade e caráter. Além disso ‘‘(...) a infância não é algo estático, é algo que está em permanente mudança a depender do contexto social, político, econômico em que está inserido’’ (PET Pedagogia, 2013). Ou seja, assim como os conceitos de culturas, é aconselhável referir-se a infâncias, pois esses momentos humanos são diversos em tempo e realidades.
''Discutindo a visão tradicional da infância, que considera as etapas imaturas da vida apenas uma preparação para a adultez, Bjorklund (1997) faz referência à lagarta e à borboleta, tomando-as como metáfora para ilustrar a imaturidade como função adaptativa – posição teórica que compreende os estágios da vida como importantes em si mesmos; afinal, é a sobrevivência da lagarta que assegura a existência da borboleta.''
Mas, então, o que seria a brincadeira e, principalmente, qual a sua importância?
Antes dessa definição é essencial falar sobre a cultura infantil, que é o local onde a brincadeira se encaixa, pois a mesma é também uma forma de absorver, construir e transmitir cultura de criança para criança e de criança para adulto. ''A cultura infantil pode ser compreendida (...) como práticas culturais nas quais as crianças tentam diversas formas de ser e praticam, modificam e constroem habilidades e valores sobre a cultura adulta'' (NOGUEIRA, 2017). Inclusive, é importante lembrar que para manter culturas vivas é necessária uma contínua transmissão dos saberes construídos em sociedade, seja por uma criança ou por um adulto; a importância é a mesma independente do período da vida.
A brincadeira é definida como uma atividade universal humana marcante da infância, mas que também ocorre durante a vida de várias outras espécies animais, principalmente em jovens. Fisicamente, durante brincadeiras é possível aprender os limites corporais que existem; ‘‘algumas hipóteses que associam a brincadeira com funções de preparação para o inesperado (Spinka, Newberry, & Bekoff, 2001), aumentando a versatilidade de movimentos usados para lidar com eventos súbitos como quedas e perda de equilíbrio e para lidar emocionalmente com situações estressantes e inesperadas’’ (SANTOS, 2005).
O estudo da brincadeira pode ser considerado um meio pelo qual é possível compreender como ocorre o desenvolvimento comportamental e social. Apesar de já existir uma quantidade razoável de pesquisas na área, ainda há lacunas sobre para que serve a brincadeira e como pode ter ocorrido a sua evolução filogenética. Pesquisas sugerem três possíveis funções: tornar os indivíduos mais flexíveis, promover o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras e propiciar a aprendizagem social. (Spinelli, Nascimento & Yamamoto, 2002).
Já socialmente, é sabido que as brincadeiras auxiliam as crianças para o convívio em sociedade, pois existe, por exemplo, a construção da cooperação em grupo, respeito entre pessoas, compartilhamento e desenvolvimento do senso de regras de comportamento. Além disso, é essencial que as crianças tenham a liberdade de experimentar e desenvolver qualquer tipo de brincadeira, pois essas experiências as estimulam a aprender a construir, cuidar, criar e formular outras atividades que são importantes na construção de um ser humano e que fazem diferença na vida de um adulto.
‘‘Para a espécie humana, a brincadeira serve, entre outras funções, como veículo para a aquisição da linguagem. (...) A estrutura inicial da linguagem, com suas regras, pode ser vista como uma extensão da estrutura presente na interação lúdica, com suas regularidades e padrões (Bruner, 1976).’’ (SANTOS, 2006, pág. 7)
A necessidade que as crianças têm de brincar supera qualquer restrição imposta pelo ambiente. Elas criam seu próprio espaço para brincar e improvisam brinquedos a partir do que esteja ao seu alcance no ambiente, sejam pedras, latas, pedaços de madeira etc, convertendo objetos em brinquedos e situações em brincadeiras. Mesmo e civilizações antigas como a Hindu (cerca de 2500-1700 a.C.) há evidências de que o brincar sempre tem sido reconhecido como parte natural do repertório comportamental humano (Oke, Pant & Saraswathi, 1999).
Para mais conteúdos sobre infância @cult.infancia
Bom, por hoje é só, até a próxima e um beijo!
HALL, Stuart. Cultura e representação. (trad. Daniel Miranda e William Oliveira). Rio de Janeiro: Ed. PUC Rio/Apicuri, 2016, p. 17-29.
NOGUEIRA, Pedro. Culturas das infâncias e como nós adultos quase as destruímos. Educação e território. Texto disponível: https://educacaoeterritorio.org.br/reportagens/culturas-da-infancias-e-como-nos-adultos-quase-as-destruimos/
PEREIRA, Meira Chaves. Cultura, infância, criança e cultura infantil: alguns conceitos. Quaestio, Sorocaba, SP, v. 15, n. 1, p. 38-49, maio, 2013.
SANTOS, A. K. (2005). Um estudo sobre brincadeira e contexto no agreste sergipano. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
SANTOS, Aretusa. LAURO, Bianca Recker. Infância, criança e diversidade: proposta e análise. P. 1-8
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1 Comentários
Oi, Alana! Parabéens pelo conteúdo! Não fico tão surpresa, pois é evidente que você é muito competente e dedicada naquilo que se propõe a fazer. Você se doa, dá o seu melhor e o resultado não poderia ser outro. Estou muito orgulhosa de você, viu? Fico feliz em estar compartilhando um pouco do que aprendeu na disciplina sobre infâncias, sinal que fez sentido para você! Um enorme abraço! Sua profª Íris! ;)
ResponderExcluirOlá! Fico muito agradecida de você ter chegado até aqui e espero que possa deixar um comentário legal; ficarei feliz em responder. Bem-vinde e volte sempre!