bloglovin pinterest twitter tumblr instagram
  • Home
  • Sobre mim
  • Contato
  • Assuntos
    • Entretenimento
    • Leitura
    • Redes sociais e Variados
    • Fotografia
    • UFBA

AMF


Olá, pessoas! Como estão? Estou passando aqui, apesar da correria do fim do semestre, para induzir vocês à adicionar algo mais na listinha (que de inha não deve ter nada) de séries de cada um de vocês! E sim, esse é mais um texto acadêmico que eu estou reutilizando aqui por ter gostado do mesmo e também por eu amar essa série. Preparem-se para atualizar suas séries nas férias!

“The Handmaid’s Tale” ou “O Conto da Aia”, é uma série estadunidense baseada no romance homônimo de Margaret Atwood e trazida à vida pelo serviço de streaming Hulu. Estrelada e produzida por Elisabeth Moss, a série trata de temas muito atuais e traz consigo atuações incríveis que deixam qualquer um arrepiado e envolvido em cada episódio.

Imagem relacionada

A série retrata uma distopia em que os Estados Unidos foi extinto e deu lugar à República de Gilead, um estado totalitário e teocrático em que as mulheres são vetadas de sua liberdade para servir famílias importantes em uma crise de fertilidade que atinge a população. As aias são mulheres que tem possibilidade de engravidar, então são estupradas para fornecer filhos aos Comandantes e suas Esposas durante ‘‘A cerimônia’’ mensal. Elas representam a casta mais importante, por causa da fertilidade, mas, contraditoriamente, a que mais sofre. A história é contada pela Offred (June) que, antes do golpe que derrubou o governo americano, era casada com um homem chamado Luke e tinha uma filha pequena, aos quais ela perdeu totalmente o contato. Que mulher!!! A força dessa personagem é igual ao espaço: só se expande cada vez mais e te encanta de formas inimagináveis. Na verdade, todas as mulheres dessa série são incríveis, das 'vilãs' até as heroínas.

Apesar de ser uma ficção, “O Conto da Aia” exibe temas muito atuais e até alguns tabus que fizeram a série ser categorizada como ‘‘polêmica’’. De forma emocionante e incrível, assuntos como violência doméstica, direitos humanos, homofobia, fanatismo religioso, politica, machismo, maternidade, feminismo e outras pautas  muito debatidas atualmente são expostas com cenas e fotografias maravilhosas que encantam qualquer pessoa que assistir, mesmo que ela, assim como eu, não entenda desses trabalhos técnicos. Tu sempre vai perceber que algo em alguma cena te encanta, parece tudo tão perfeitinho, as cores, o enquadramento. Brilhante!

Mulheres usam roupas inspiradas na série em protesto
Em junho de 2017, mulheres usaram roupas inspiradas na série para protestar contra uma lei que restringia o aborto em Ohio (Crédito: Jo Ingles/Ohio Public Radio/TV Statehouse News)

A série não é feita para quem tem sensibilidade á conteúdos fortes por apresentar cenas de torturas/estupros direcionadas às aias e violadores dos mandamentos de Gilead. Entretanto, seria muito bom abrir uma pequena exceção para assisti-la, pois, “O Conto da Aia” é uma viagem para um mundo não tão distante do nosso cotidiano; inclusive a mesma é usada como símbolo de protestos: em junho de 2017 mulheres usaram roupas inspiradas na série para protestar contra uma lei que restringia o aborto em Ohio; assim como a frase Nolite te bastardes carborundorum (Não deixe os bastardos te oprimir) que se tornou um grito de protesto e tatuagens para algumas mulheres (futuramente eu pretendo ser uma dessas).

Imagem relacionada
''A série utiliza de pautas atuais, como o movimento #MeToo e o governo de Donald Trump, para criar roteiros que conversem com o que vemos na mídia, mas essa é apenas uma forma de olhar para a história. Com tanto retrocesso presenciado no mundo inteiro, a série serve como um alerta. Se na primeira temporada ela já carregava um texto pesado, este ano o roteiro não facilita em nada para o telespectador.'' (A Escotilha)
''É preciso compreender que The Handmaid’s Tale Ã© uma série de um clima político tenso, que exige um grau de crítica acima de qualquer pensamento tradicional. Tanto que é libertador imaginar que um produto como esse está sendo disponível justamente numa época em que a onda do conservadorismo assola diversos países, pondo em risco não só as mulheres, como todas minorias que lutam por seus direitos.'' (Série Maniacos TV)

Trailer:

Eu pensei em dar mais detalhes e falar muito sobre a série, mas, assim como eu, quero que vocês tenham as descobertas, surpresas e desvendem suas dúvidas no decorrer da série. Acho que dessa forma é bem mais interessante e instigante. Recentemente eu até comprei o livro e, assim que eu estiver de férias, irei começar a lê-lo e, quem sabe, eu trago uma atualização sobre a história do ponto de vista do livro.

Resultado de imagem para the handmaid's tale resenha aias
Assistir a essa série tão poderosa e brilhante é uma experiência enriquecedora; é recheada de assuntos essenciais e merece ser vista e comentada em cada virgula. Desde que comecei a acompanhar a ânsia de ver mais e mais nunca passou, recomendo The Handmaid’s Tale sempre que posso. A série é um ótimo caminho para abrir e discutir pautas, refletir sobre os acontecimentos e condições atuais e, sem dúvida, é uma história incrível que ainda vai dar muito o que falar na sua próxima temporada (4) e na continuação do livro que foi publicado esse ano:
The testaments. Enfim, corram para assistir as temporadas, leiam e aproveitem essas obras incríveis; ano que vem tem mais! 
Não esqueça de comentar se vai assistir, se gostou (post e/ou série), se já assiste, resumindo: sintam-se em casa! Blessed be the Fight, beijão e até a próxima. 

Redes Sociais

 Instagram | Instagram de Fotografia | Tumblr | Twitter | Pinterest 

sábado, novembro 02, 2019 No Comentários

Olá, pessoas! Estou de volta hoje e minha fala é direcionada para aqueles que já leram, nem que seja uma parte, A paixão segundo G.H. de renomada Clarice Lispector. Em uma das minhas aulas, meu professor solicitou a leitura de 3 capítulos dessa obra muito aclamada e, a partir dessa leitura + debates sobre a história e opiniões, foi dada a tarefa de construir uma narrativa literária no mesmo universo do livro. Porém, dessa vez a pessoa que deveria narra a história seria nossa amada e injustiçada Janair. E aí, leitor? Você se lembra dela ou, assim como a G.H., nem lembrava do nome da mesma?

Brincadeiras à parte, foi exatamente nesse ponto em que as nossas discussões em sala rodaram: o esquecimento/apagamento de Janair nas falas daqueles que leram e falam do livro, na internet por exemplo. A não problematização das falas e pensamentos racistas que a personagem G.H. expunha. Ficou curioso? Procure no Google resenhas e comentários sobre a obra, poucas falaram desses pontos problemáticos.

Não estou querendo dizer que, por causa desses fatos da história, ela seja ruim ou que não deve ser lida. Muito pelo contrário, é um bom livro e tem que ser lido, mas também tem que ser questionado e debatido todos os seus aspectos, pois, a partir do mesmo, podemos abrir reflexões e discussões ótimas sobre a época que ele foi publicado, perspectivas da autora, a visão e opinião da sociedade que o leu, questões raciais e de classe e entre outras pautas interessantes. Vale a pena ler e reler esse livro para entender suas entrelinhas e, quem sabe, compara-lo com outras obras, como o artigo Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira de Lélia Gonzales (já fica a dica ðŸ˜ƒ)

Sinopse de A paixão segundo G.H.:
Romance original, desprovido das características próprias do gênero, A paixão segundo G.H. conta, através de um enredo banal, o pensar e o sentir de G.H., a protagonista-narradora que despede a empregada doméstica e decide fazer uma limpeza geral no quarto de serviço, que ela supõe imundo e repleto de inutilidades. Após recuperar-se da frustração de ter encontrado um quarto limpo e arrumado, G.H. depara-se com uma barata na porta do armário. Depois do susto, ela esmaga o inseto e decide provar seu interior branco, processando-se, então, uma revelação. G.H. sai de sua rotina civilizada e lança-se para fora do humano, reconstruindo-se a partir desse episódio. A protagonista vê sua condição de dona de casa e mãe como uma selvagem. Clarice escreve: “Provação significa que a vida está me provando. Mas provação significa também que estou provando. E provar pode ser transformar numa sede cada vez mais insaciável. ” (SARAIVA)

Bom, a minha narrativa é, basicamente, o ponto de vista de Janair nos 6 meses em que ela ficou na casa de G.H. como empregada; talvez alguns acontecimentos do meu texto sejam spoilers de partes do livro (aviso para quem não leu ainda). Detalhe legal: usei imagens para ilustrar os personagens ou uma situação específica. Espero que gostem, beijão e até a próxima! ðŸ’Ÿ

X

Invisível. Ainda queria entender como eu, negra desse jeito, fui apagada dessa forma. Entretanto, o impossível tornou-se possível e foi exatamente isso que eu me tornei durante os seis meses em que trabalhei naquele espaço, que queria representar uma casa, um lar e falhou, pois, ao mesmo tempo em que a cobertura levava para as alturas, trazia também o vazio que lá habitava. Em primeiro momento, achei que seria bom ter conseguido aquele emprego, visto que o mesmo era suficiente no momento, mas, desde o primeiro dia, eu me sentia (poderia usar o verbo via ou enxergava, contudo, como eu disse, eu era invisível, quase não existia) como uma intrusa naquele ambiente.



Durante os primeiros dias, por ser algo recente, refletia, eu era apenas a ‘empregada’. Nunca Janair. ‘‘Vai ver a antiga empregada era chamada assim, ou preferia. Costumes, certo? ’’ Eu sempre pensava, mas, claro, nunca questionei G.H. até por que não poderia de jeito nenhum arriscar meu serviço. Os dias passaram e junto com eles eu fiquei acostumada com esse nome que me foi dado, até o ouvia ecoar pela cobertura, mesmo quando ela não falava ou gritava. Bom, pelo menos ela era educada na maioria das vezes, como não ser? Boa classe, boa vida, bom estudo, boa família. Tem tudo para ser uma ótima pessoa. As vezes faltava um tom de voz mais amigável, um ‘‘obrigada’’, um ‘‘ por favor’’ ou um mínimo ‘‘bom dia’’, mesmo quando eu a cumprimentava, mas acontece com qualquer um, provavelmente era apenas o cansaço do árduo trabalho e algumas horas sem sono, normal.



Um mês se foi e eu estava mais uma vez no quarto em que ficava, dessa vez me ajeitando para dormir enquanto eu sentia e ouvia o silencio da madrugada. G.H. havia convidado umas pessoas para uma pequena reunião em sua casa, o dia havia sido longo, cheio de risadas e de conversas bem animadas. Eles pareciam empolgados conversando, comendo e bebendo, acho que por isso nem repararam em mim direito, apesar de eu ser um ponto preto em meio à neve, o assunto e suas distrações próprias sobressaíram bem mais que eu servindo todos eles. Paciência. Não estou aqui para rir ou conversar, como ouvira uma outra vez de uma antiga patroa. Sem distrações, apenas trabalho. Pessoas contavam comigo, aquelas que realmente me enxergavam. Minha família e meu futuro (esse eu sonhava e precisava que ele me enxergasse, pois eu trabalhava muito para isso).

Já faziam dois meses que eu estava nesse lugar e o desconforto não poderia ser maior (na verdade, eu nem deveria pensar isso, vai que piora). Essa casa parecia se tornar cada vez maior e vazia, eu me sentia sozinha. Então, certa noite quando eu estava deitada em ‘‘minha cama’’ decidi que iria pensar em algo que fizesse aquele pequeno cômodo ser mais meu, parecer mais vivo, fazer com que ele realmente existisse, assim como eu deveria ser naquele lugar. Eu sempre apreciei artes em geral, adorava desenhar e tinha até um caderno próprio com desenhos que eu fazia em momentos de inspiração ou apenas para me distrair. A partir disso tive a brilhante ideia de desenhar na parede do quarto. Ri sozinha imaginando como ficaria e se aquilo me traria problemas. Mas acho que não, ela nunca nem chegava perto dessa parte da casa, muito menos entrava aqui. Talvez, assim como eu, esse quarto seja invisível. E eu espero que continue assim, não quero me meter em encrencas.

Depois de muito pensar no que eu iria desenhar, resolvi começar tentando fazer o meu fiel companheiro: Cadu, meu cachorro que havia ficado com a minha família. Eu sentia falta da companhia dele, quem sabe o desenhando esse local fique mais aconchegante e diminua a saudade de casa. Bom, a intenção foi ótima, mas eu acho que meus desenhos ficam melhores no papel ao invés dessas enormes paredes. Mais uma vez ri sozinha e pensei ‘‘Pelo menos temos aqui uma memória engraçada e, em parte, foi divertido’’. Uma distração fazia bem para qualquer um.

No terceiro mês, eu meio que já estava acostumada em não existir. Falava apenas quando me perguntavam ou cumprimentavam, o que não acontecia muito, então eu era quase muda. Em compensação, o meu pequeno quarto tornou-se um refúgio onde eu podia ser eu, colocar uma música no radinho, ler meus livros ou simplesmente olhar as estrelas pela janela que, diga-se de passagem, tinha uma vista muito linda. Hoje, diferentes dos outros dias, era uma data especial: meu aniversário. Então, resolvi sair de noite para quem sabe arrumar uma diversão a mais. Assim que terminei meus afazeres e a noite chegou, quando G.H. estava indo dormir, eu a informei que iria sair, visto que a mesma não precisaria mais de mim. Ela apenas me disse para não volta tarde, logo eu concordei, agradeci e sai feliz para me arrumar.


Naquela noite eu não fui muito longe de ‘‘casa’’, fiquei pela praia que tem lá por perto, encontrei algumas pessoas, conversei um pouco, me dei ao luxo de comer coisas gostosas que não sentia o gosto há muito tempo e apreciei a vista marítima que estava a minha frente. Por um instante minha atenção foi tirada do mar e voltou-se para um casal que por ali passeava. Eles estavam felizes, rindo, conversando, aproveitando um ao outro. Acho que nem se eles quisessem, conseguiriam ser invisíveis, o brilho deles não permitiria. Não os conhecia, porém estava feliz por eles. Voltei para meu quartinho pensando em como a noite tinha sido boa. Foi aí que eu tive a ideia: iria desenhar o casal na parede. ‘‘Mas por que, Janair? ’’ Eu queria memorizar aquela felicidade, aquele brilho, ser daquele jeito. Toda manhã eu veria aquele desenho e isso me lembraria que no futuro eu teria aquele brilho, não seria mais invisível.

Mais uma vez meus dons artísticos não foram muito bem aceitos pela parede, nem o carvão cooperava com os traços, porém, repito, o que importa é a lembrança e o objetivo por trás daquelas figuras e as risadas que eu dei produzindo-as.

O quarto mês chegou e as coisas continuavam iguais. Eu acordava, fazia o que tinha que fazer, obedecia ao que tinha que obedecer e assim o dia seguia. Perto de anoitecer, G.H. saiu e quando voltou já era tarde, mas ela estava com alguém. Fiquei rezando para que ela não e chamasse para fazer nada, eu tinha me preparado para dormir fazia pouco tempo. Porém nenhum ‘‘EMPREGADA’’ foi escutado.

O ser humano tem algumas necessidades que sempre aparecem em momento que não deveriam acontecer. Nessa noite eu fui amaldiçoada com essas necessidades: eu precisava urgentemente ir ao banheiro; despertei do meu sono apenas para isso e já faziam 30 min que eu tentava esquecer isso e dormir, mas estava quase impossível. Cansei de resistir e fui, de pontinha de pé em pontinha de pé. Quando cheguei na sala tomei um susto: G.H. e a pessoa desconhecida estavam dormindo abraçados no sofá cobertos apenas por uma manta. Minha respiração ficou presa, logo apressei meus pequenos passos e segui para o banheiro tentando não fazer barulho. Na volta, tive o mesmo cuidado, mas, quando cheguei na sala suei frio. G.H. estava de olhos abertos me encarando. Ficamos uns segundos, que pareciam eternidade, nos encarando, mas logo acordei do transe e segui rapidamente para meu quarto. Meu sono foi atormentado por pesadelos. ‘‘Será que eu perdi meu emprego? ’’

O quinto mês chegou e o pensamento de que meus dias naquele lugar estavam contados também. Depois daquele ocorrido, na manhã seguinte G.H. resolveu inovar o seu vocabulário comigo apenas para falar em bom e alto som: ‘‘Não quero você perambulando pela minha casa tarde da noite, já basta ela manhã’’. Não tinha o que falar, eu apenas concordei e me desculpei (por precisar ir ao banheiro, que crime!). O cotidiano continuou o mesmo, as horas se arrastavam e ao final do dia eu podia finalmente voltar para o meu refúgio. E, se tivesse sorte de terminar meus afazeres mais rápido que o normal, eu tinha o privilégio de assistir o lindo finalzinho do pôr-do-sol que pintava meu quarto de laranja. Apenas aquilo melhorava infinitamente o meu dia.

Sexto e Ãºltimo mês. Depois dessa previsão, acho que irei trabalhar como cartomante (rindo para não chorar). Bom, eu não recebi respostas claras quando questionei o porquê da demissão, mas acho que esses meses responderam a minha pergunta: eu não era bem-vinda. Contudo não me importei, sentimentalmente falando, eu fiz minha parte e agora seguirei com minha vida. A minha única preocupação era o dinheiro que me restara, eu precisava descobrir como iria me cuidar e ajudar a minha família daqui para frente.


Antes de ir embora, arrumei meu cantinho inteiro com o maior prazer, aquele quarto tornou-se algo especial e eu espero que a próxima pessoa que ficar aqui cuide dele e tenha bons momentos também. Agora era hora de voltar para casa ou então ficar, caso eu consiga um outro emprego com muita sorte; não são tempos fáceis, ainda mais para mim. Mas temos que ter fé, certo? A vida é uma surpresa e meu futuro me aguarda ansiosamente.

J.

 








Obs: as imagens usadas nessa postagem são obras de Sacrée Frangine

quinta-feira, outubro 10, 2019 No Comentários
Resultado de imagem para chegada dos portugueses no brasil
Desde os primórdios da humanidade, as pessoas se desenvolvem estabelecendo relações de poder entre si, a mesma forma-se no momento em que alguém deseja algo que depende da vontade do outro. A colonização foi um método de formar essas relações e, já que, a palavra colonização resulta do verbo latino colo que significa eu moro, eu ocupo a terra, eu trabalho, eu cultivo o campo (Dialética da Colonização, 2013, pág 11), esse ato pode ser definido em dois processos ‘‘o que se atém ao simples povoamento’’ e ‘‘o que conduz à exploração do solo’’ (Dialética da Colonização, 2013, pág 11–12). No caso do Brasil, por exemplo, a colonização era predominantemente exploradora, pois os portugueses vieram para o país com o intuito de extrair recursos naturais e minerais, tendo em vista apenas interesses econômicos e lucrativos através do começo das Grandes Navegações (XV-XVII).

Quando os colonus chegaram no Novo Mundo eles depararam-se com os incola, ou seja, os nativos residentes da terra. Entretanto, é importante destacar que existia uma grande disparidade entre as reações diante desse encontro, como é exposto nos trechos a seguir:
os índios eram animais, os segundos contentavam-se em suspeitar que os primeiros fossem deuses. Em nível idêntico de ignorância, o último procedimento era, com certeza, mais digno de homens. ’’ - Lévi-Strauss
(SANTIAGO, Silviano. O entre-lugar do discurso latino-americano, 2000, p.12)
‘‘(…) uma complexa representação dos distintos grupos de índios (o seu reconhecimento foi precoce), em que os traços mais perturbadores (canibalismo, poligamia, nudez) se misturaram com a sensação de uma inferioridade cultural absoluta (incapacidade de ler e de escrever, falta de organização política e social, mas sobretudo de culto divino e, por isso, de vocabulário religioso adequado a transmitir os rudimentos do cristianismo’’
(MARCOCCI, Giuseppe. A Consciência de um Império: Portugal e o seu mundo — Sécs. XV-XVII, 2012, p.431)
Resultado de imagem para cultura indigena

Ao comparar esses dois trechos, é evidente que, apesar dos dois grupos sociais terem a mesma ‘‘ignorância’’ equivocada, os povos nativos, repletos de ingenuidade, ainda assim podem ser vistos como mais dignos, pois os nativos receberam os portugueses como Deuses e os colonizadores os enxergavam como inimigos, animais e seres inferiores. Essa conclusão precoce e superficial desencadeou questionamentos sobre a natureza daquela nova humanidade e dúvidas em relação a existência de alma nos nativos (A Consciência de um Império, 2012, p.431), o que foi mais um pretexto para desumanizar aquelas pessoas. Apesar disso, sabemos que as culturas e os costumes indígenas não eram como os colonizadores interpretavam e a alma deles estava intrinsecamente ligado a esses aspectos peculiares. O documentário ‘‘O Povo Brasileiro’’, baseado no livro de Darcy Ribeiro, mostra que os nativos acreditavam na divindade em todas as coisas, na força dos antepassados, possuíam um idioma bastante sofisticado, uma crença politeísta, eram profundos conhecedores da fauna e da flora da região e eram donos de saberes sofisticados sobre o uso de cada planta, seu poder nutritivo, de cura ou de morte. Toda essa cultura e sabedoria eram passadas de geração para geração, até, chegar em nós atualmente, o que explica muitos costumes dos brasileiros, como por exemplo, o uso caseiro de plantas.

Mesmo presenciando toda essa profunda e rica cultura, os colonizadores interpretaram como algo inferior a si e começaram a explorar meios para ‘‘civilizar’’ esse povo e para poderem usar dessas pessoas ao seu favor. Um desses processos foi o batismo realizado pelos jesuítas que, segundo Giuseppe Marcocci em A Consciência de um Império (2012, p.435), reestruturavam todo o cotidiano dos nativos e, além da jornada de trabalho, teriam agora um foco maior nos deveres religiosos, sendo assim, aculturados por um padrão tido como superior (Dialética da Colonização, 2013, pág 17). Esse processo de entrada na vida cristã foi exposto no filme ‘‘A Missão’’ (1986) que mostra em suas cenas a trajetória dos jesuítas em sua missão religiosa no Novo Mundo.

Todavia, além do batismo ser forçado, era também uma forma de negar práticas culturais, logo, segundo Giuseppe Marcocci em A Consciência de um Império (2012, p.431), era normal muitos índios possuírem ‘‘uma visão radicalmente negativa do baptismo’’ o que dificultava ainda mais o processo de dominação, visto que os nativos possuíam apenas três destinos: ou perder seus costumes e crenças para uma nova cultura, em nome de Deus; ou serem escravizados como animais selvagens; ou serem exterminados pelos colonizadores.

Além do batismo, consequentemente, a aconteceu a perda parcial do código linguístico nativo. Esse outro método de dominação era promovido e estimulado a partir da troca consecutiva da língua nativa pelo português nas representações religiosas e nas peças teatrais (O entre-lugar do discurso latino-americano, 2000, p.14). Dessa forma, com a junção do código religioso e do código linguístico europeu, os nativos perdiam dois aspectos muito importantes de sua cultura, já que, segundo Silviano Santiago em ``O entre-lugar do discurso latino-americano`` (2000, p.14), evitar o bilinguismo, gerava o não pluralismo religioso e significava impor o poder do colonizador.

Em decorrência a esses mecanismos de colonização e sua interferência nos povos que aqui existiam, o Brasil sofreu diversas leituras em relação à sua sociedade, uma das mais famosas é a de Sérgio Buarque de Holanda no texto Homem Cordial do seu livro ``Raízes do Brasil`` (2004). Segundo Buarque, o brasileiro tem em si o homem cordial, reprodutor das virtudes tão elogiadas por estrangeiros, como hospitalidade e generosidade que representam “um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece viva e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano” (pág 146). Entretanto, sabemos que não se trata de simples gestos de bondade, já que, além de ser uma característica patriarcal de uma parcela especifica da população da época, a nossa forma de socializar no cotidiano ‘’é justamente o contrário da polidez’’ (pág 147), pois a atitude polida significa um disfarce para a preservação das emoções. A descrição de cordialidade feita por Holanda faz o brasileiro ser a pessoa que deseja estabelecer intimidade e, ao mesmo tempo, ter aversão ao formalismo social.

Na prática, isto faz as relações familiares serem modelo em qualquer situação social e, consequentemente em geral, os indivíduos não conseguem compreender a distinção entre os termos público e privado, principalmente entre o Estado e a família.

Apesar dessa confusão de identidade, é interessante refletir que, ao escrever esse texto, Holanda não estava no Brasil, logo, assim como muitos estrangeiros, possuía uma visão limitada do país, mesmo sendo brasileiro. Por conseguinte, podemos fazer uma comparação ao texto de João-Francisco Duarte ‘‘O que é Realidade? ’’ (1994), onde o mesmo fala sobre o conceito de realidade e, ao dar muitos exemplos do cotidiano, conclui que existem realidades diferentes a partir de perspectivas distintas: ‘‘ O mundo se apresenta com uma nova face cada vez que mudamos a nossa perspectiva sobre ele’’. (pág 11). Isso adapta-se facilmente ao contexto dos estrangeiros, que, muitas vezes, conhecem superficialmente o Brasil, e ao de Sergio Buarque de Holanda, que escreveu seu livro quando estava estudando na Alemanha. Ambos possuem perspectivas diferentes e, logo, uma realidade diferente e idealizada do país, como foi exposto no documentário Olhar Estrangeiro, que mostra a desmistificação dos clichês sobre o Brasil.

Em conclusão, ao meu ver, possuímos essa confusão em distinguir a nossa sociedade e seus comportamentos justamente por causa das perspectivas diferentes estabelecidas em relação ao país, já que, estamos sempre nos olhando e interpretando baseado no olhar do outro sobre nós.

Redes Sociais
 Instagram | Instagram de Fotografia | Tumblr | Twitter | Pinterest 
quarta-feira, agosto 28, 2019 No Comentários
Newer Posts

Sejam Bem-vindes

Sejam Bem-vindes

Tradutor

Tags

Arte Entretenimento Filmes filmes e séries Fotografia História Leitura Livros Narrativa Literária Podcast redes sociais Resenha Rolê Cultural Texto UFBA variados youtube

Spotify

Seguidores

Bloglovin

Follow

Blog Archive

  • ►  2020 (11)
    • ►  Julho (1)
    • ►  Junho (2)
    • ►  Maio (1)
    • ►  Abril (3)
    • ►  Março (2)
    • ►  Fevereiro (1)
    • ►  Janeiro (1)
  • ▼  2019 (3)
    • ▼  Novembro (1)
      • Resenha: The Handmaid's Tale - O Conto da Aia
    • ►  Outubro (1)
      • A paixão segundo G.H.? Não, a paixão segundo Janai...
    • ►  Agosto (1)
      • A Colonização sob o olhar dos textos dos Estudos d...

Publicidade

Publicidade

Created with by ThemeXpose